quinta-feira, 26 de março de 2015

Alguns pontos relevantes sobre Filosofia Moderna

- As principais transformações que ocorreram nas estruturas européias durante o século XVI e que acabaram promovendo mudanças na forma pela qual o homem ocidental encarava a natureza, o conhecimento e a política são: a formação dos estados nacionais, o fortalecimento da burguesia, a reforma religiosa, a revolução científica, a invenção da imprensa e o renascimento cultural. Todas estas transformações contribuem para o surgimento de uma visão de mundo antropocêntrica, visão esta em que o homem se torna o centro da cultura, pois passa a ser considerado o sujeito, que produz conhecimento, que utiliza da capacidade racional para produzir cultura, para inovar, criar novas ideias.

- No que se refere ao Renascimento humanista, sua principal característica é a valorização dos clássicos greco-romanos tendo como lema o pensamento do filósofo Protágoras que diz: “o homem é a medida de todas as coisas”. Com isso, os temas pagãos voltam a ser pintados e os temas cristãos são aproximados à estética grega, como por exemplo, a imagem de Deus encontrando Adão (A Criação de Adão). Contudo, o afresco A Escola de Atenas pintado por Rafael Sanzio é a obra artística que melhor representa esse resgate greco-romano.

- No que se refere à política, a filosofia política atua no sentido de pensar racionalmente sobre a função do Estado e dos governantes, tendo os seus autores incluído valores humanistas em suas obras que dentre os quais podemos citar o Erasmo de Rotterdam, Thomas Morus e Nicolau Maquiavel.

- No que se refere à ciência, a valorização da observação e do método experimental faz surgir uma ciência ativa em oposição à ciência contemplativa dos antigos e Nicolau Copérnico propõe um novo modelo de universo em que o sol passa a ser o seu centro (heliocentrismo), contrariando o modelo de Ptolomeu em que a Terra seria o centro do universo (geocentrismo).

quinta-feira, 12 de março de 2015

Questões de Filosofia Medieval

01] (UFU 2006)
“Tudo o que se move é movido por outro ser. Por sua vez, este outro ser, para que se mova, necessita também que seja movido por outro ser. E assim sucessivamente. Se não houver um primeiro ser movente, cairíamos num processo infinito, o que é absurdo. Logo, é preciso que haja um primeiro ser movente que não seja movido por nenhum outro. Esse ser é Deus”.

Tomás de Aquino. Suma de Teologia. Citado por: COTRIM, Gilberto.
Fundamentos de Filosofia. São Paulo: Saraiva, 1996. p. 135.

O texto acima apresenta uma das cinco “provas” da existência de Deus chamada por alguns de argumento do Primeiro Motor Imóvel, proposta por Tomás de Aquino. A propósito desse tema, responda o que é pedido nos itens a seguir.

A) Comente a influência de Aristóteles na elaboração do argumento dessa prova.
R: O argumento Primeiro Motor imóvel tem na metafísica aristotélica o seu fundamento filosófico. Isso porque, segundo o filósofo grego, para que haja movimento, é necessário que haja uma causa eficiente e, no limite, uma primeira causa um primeiro motor que move sem ser movido. Tomás de Aquino apreende essa idéia afirmando que esse primeiro motor é Deus.

B) Cite e exponha uma das outras quatro “provas” desenvolvidas por Tomás de Aquino.
R: Tomás de Aquino apresenta ainda quatro outras provas da existência de Deus.
1. Causa primeira: Todo efeito possui uma causa eficiente. Logo, deve haver uma causa primeira para as coisas e esta é Deus.
2. Ser necessário: Todos os seres são contingentes, ou seja, todos deixarão de existir. Para que o mundo não deixe de existir é necessário que ao menos um ser seja necessário para garantir a existência dos outros. Esse ser é Deus.
3. Ser perfeito: há graus de perfeição em todos os seres. Sendo isso uma graduação, deve haver um nível máximo de perfeição, e este está em Deus.
4. Inteligência ordenadora: como toda ordem advém de uma inteligência, deve haver uma inteligência última que ordenou todo o universo. Esta é Deus.

02] (UFU 2001)
“Todas as coisas brutas, que não possuem inteligência própria, existem na natureza cumprindo uma função, um objetivo, uma finalidade, semelhante à flecha dirigida pelo arqueiro. Devemos admitir, então, que existe algum ser inteligente, que dirige todas as coisas da natureza para que cumpram seu objetivo. Este ser é Deus.”

Tomás de Aquino. Compêndio de Teologia.São Paulo:
Abril Cultural, 1973. Coleção “Os Pensadores”.

O texto acima é a quinta prova da existência de Deus elaborada por Tomás de Aquino. Explique o argumento da prova, considerando a ordenação do ser criado, segundo o princípio da finalidade divina.

R: O princípio da finalidade divina considera que todo o ser tem uma finalidade, que não pode ser arbitrária. Essa finalidade é dada por um ser sumamente potente e inteligente, que dirige todas as coisas segundo seu fim específico. Esse ser dirigente é Deus.

03] (UFU 2001)
“Creio tudo o que entendo, mas nem tudo que creio também entendo. Tudo o que compreendo conheço, mas nem tudo que creio conheço.”

Agostinho. De Magistro. São Paulo: Abril Cultural,
19733 p. 319. Coleção “Os Pensadores”.

A citação de Agostinho refere-se à relação entre fé e razão. Explique como este filósofo concebe esta relação.

R: A citação de Agostinho demonstra como, para ele, a fé é superior à razão. Ele afirma que se pode crer em algo sem entender. Isso acontece uma vez que se pode crer nas verdades da fé sem as compreender. Entretanto, o inverso não é possível. Algo compreensível é algo necessariamente crível (é por isso que ele afirma “creio tudo que entendo”), e é por isso que a razão se submete à fé.

04] (UFU 2000)
“Se é verdade que a verdade da fé cristã ultrapassa as capacidades da razão humana, nem por isso os princípios inatos naturalmente à razão podem estar em contradição com esta verdade sobrenatural.”

Tomás de Aquino, Suma contra os Gentios,
São Paulo: Abril Cultural, 1973. P. 70

Com base no texto acima, explique como Tomás de Aquino harmoniza as verdades da fé com as verdades da razão natural.

R: Segundo Tomás de Aquino, a razão e a fé não se contrapõem porque ambas provém da mesma verdade eterna, que é Deus. A razão, por esta perspectiva, deve estar submetida à fé, pois não é capaz de compreender todas as suas verdades (como a verdade de que Deus é uno e trino). Nesse sentido, existe uma razão natural do homem capaz de conhecer, mas não de conhecer tudo. Assim, a revelação também pode aperfeiçoar a razão natural.

05] (UFU 1998)
“A criação das coisas por parte de Deus é a melhor, pois é próprio de que quem é o Melhor fazer tudo da melhor maneira. Ora, é melhor fazer uma coisa em vista de um fim do que fazê-la sem visar a uma finalidade. Por conseguinte, Deus fez as coisas com vistas a uma meta”.

Tomás de Aquino – Compêndio de Teologia – Coleção “Os Pensadores”

Esse argumento da finalidade das coisas é freqüente no pensamento de Tomás de Aquino. Explique como Tomás de Aquino utiliza-o para provar a existência divina.

R: Podemos dizer, muito basicamente, que duas concepções aristotélicas estão envolvidas nesta argumentação de Santo Tomás de Aquino. A primeira é uma concepção lógica sobre o estilo de argumentação, isto é, o uso de um silogismo. A segunda é uma concepção ontológica sobre a ordenação do ser, isto é, a referência à causalidade, mais especificamente, à causa final.
No silogismo realizado por Santo Tomás de Aquino temos:
Primeira premissa: Deus cria apenas as melhores coisas,
Segunda premissa: As melhores coisas são melhores apenas se visarem um fim,
Conclusão: Deus cria apenas coisas que visam um fim.

Finalidade é o caráter daquilo que, de modo consciente tende para um objetivo através da organização dos meios. Nesse caso existe uma finalidade intencional, isto é, um plano provindo de Deus, como um ser criador de todas as coisas. As coisas em si não trazem a razão (finalidade ou fundamento primeiro) de seu próprio existir, incluindo o homem, de modo que, a ordem e a finalidade se fundamentam numa causa exterior, essa causa exterior, consciente e ordenadora que visa a finalidade de todas as coisas só pode ser Deus.